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O ADVENTO DA TELEVISÃO

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012 comentários
Não é por acaso que, pelo menos uma parcela do povo brasileiro, prefere tomar água morna (falando de maneira irônica) do que deixar de ver TV. Isso porque o nosso país tem mais televisão do que geladeira, apesar do clima tropical. São mais de 33 milhões de aparelhos de TV. Segundo pesquisa por amostra de domicílios, realizada em 1996 em todo território nacional, e divulgada na revista Veja, em novembro de 1997: “o número de domicílios com aparelho de TV era de 84,3%. E com geladeiras, 78,2%” (VEJA, 19 de novembro de 1997:31).
A televisão passou a ser mais importante do que qualquer outro eletrodoméstico. Nunca ouvimos falar que outro aparelho merecesse e tivesse sua salinha exclusiva com cadeiras cativas. As tevês dão tantas alegrias, provocam tantas emoções, “ensinam” tanta coisa às pessoas que não podem simplesmente ser chamadas de aparelhos. Às vezes fazem mais companhia do que um ser humano, outras, chegam a se tornar fetiches. No Brasil não é incomum barracos de favelas (onde muitas vezes se passa fome) possuírem antenas parabólicas para uma melhor recepção de TV.
Se em nosso país há mais televisores dentro de casa do que geladeiras, nos Estados Unidos da América o número de lares que possuem um aparelho de televisão é maior do que o de casas com água encanada. E na maioria deles, o televisor fica ligado cerca de sete horas por dia. E o que é pior, três em cada oito adultos confessa ser viciado em televisão, segundo relatório do periódico americano New Yorker. No Brasil a dependência da TV não parece muito diferente da realidade americana. Segundo estudos divulgados pela UNESCO, a média brasileira está entre as maiores do mundo, quatro horas por dia na frente da telinha.

TV: INSTRUMENTO SOCIALIZADOR E/OU ALIENADOR?

É muito difícil dimensionar com precisão a capacidade socializadora da televisão sobre os jovens. Há muitos debates e muita discordância dos estudiosos quanto ao assunto. Mas de uma coisa ninguém discorda, de que a televisão tem a capacidade de criar modelos de comportamento, difundir atitudes e transmitir valores de um modo peculiar. Na família, escola, igreja e nos grupos de amigos, a socialização é praticada através de contatos diretos, com leis que estabelecem recompensas e punições que servem para orientar o comportamento nos moldes estabelecidos em cada um dos grupos sociais. Além disso, por mais que a estrutura dos grupos seja rígida, há sempre a possibilidade de uma negociação constante a respeito da aplicação das normas e dos valores que orientam suas decisões e ações. Isso é possível graças à interação direta entre os seus membros.
No caso específico da televisão, o processo de socialização é distinto, porque o tipo de interação que a TV propicia, é indireta.
Ou seja, é por meio da audiência que, especialmente crianças e jovens, recebem as mensagens que lhe são enviadas, passivamente. A capacidade de interferir sobre o conteúdo das mensagens é bem limitada, o que torna a transmissão via TV, até certo ponto, autoritária. Não raro, a interpretação dos fatos é apresentada como sendo o próprio fato.
Além disso, a TV não dispõe de mecanismos próprios de recompensas e sanções, embora tenha poder de orientar o comportamento. Ninguém precisa ser sociólogo para perceber a força dos modelos divulgados pela televisão.
Por meio das suas programações, comerciais e propagandas, são estabelecidos padrões de consumo, comportamentos, atitudes e valores que atuarão como modelos a serem seguidos, principalmente pelas crianças e adolescentes.
Inquestionavelmente, a televisão alterou profundamente o comportamento das pessoas de um modo geral, seja na vida pessoal, na família, na igreja, na vizinhança ou na sociedade como um todo. Percebe-se com essas transformações que a TV desempenha um importante papel na socialização dos indivíduos. O processo de socialização do ser humano envolve diferentes fontes de influência como a família, a vizinhança, a escola, a igreja e inegavelmente a TV.
Sendo que essa última, na maioria das vezes, é a mais influente. De acordo com os estudiosos na área da educação e comunicação, uma pessoa recorda 10% do que lhe é transmitido por meio dos ouvidos; 50% por meio dos olhos; 70% por meio da boca e 90% por meio das mãos. A televisão talvez esteja numa porcentagem acima dos 70%, seu poder de penetração e influência é tão amplo ao ponto de formar uma geração de pessoas que não gostam e não sabem pensar por si mesmos.
Os meios de comunicação, e a TV em particular, vieram transformar radicalmente as condições do processo de socialização. Hoje a televisão é o primeiro e maior (no sentido de amplitude e alcance) contato das pessoas, especialmente as crianças, com o mundo externo. Em apenas cinco minutos, ela vai do Irã a manaus, vê um desenho inglês, uma novela mexicana, etc.
É, portanto, considerada por muitos pedadogos como um excelente meio de educação. Há quem defenda a idéia de que a televisão enriquece o universo da criança pré-alfabetizada ao fazê-la ouvir outras vozes além das dos familiares, ao mostrar mais do que os limites das quatro paredes da casa. Mas é uma pena que ainda seja tão mal explorada, principalmente pela família e pela escola.
As crianças nascidas depois da era televisiva sofreram uma profunda transformação. Antes a família desenpenhava bem seu papel de formar hábitos e valores, uma vez que o ambiente familiar era a fonte primária dos mesmos, bem como a maior influência para a formação social e moral da criança. Hoje elas dispõem de uma fonte que lhes permite vivenciar ou experimentar emoções novas, assimilar valores, crenças, idéias e filosofias diferentes das defendidas pela sua família.
Isso significa que desde a mais tenra idade, justamente no período mais importante para a formação de seu caráter, as crianças são alvo de poderosos “holofotes” de influências múltiplas, com mensagens muitas vezes contraditórias, chocantes e absurdas, sobre temas que elas não compreendem devido a sua precocidade.
As crianças mais novas não entendem, por exemplo, as mudanças súbitas de ângulo, os efeitos visuais e o efeito zoom, de aproximação e afastamento da câmera. Também não percebe que seu desenho foi interrompido para um comercial. Fica achando que tudo faz parte de um só programa, que está mandando ela comprar alguma coisa. Só para se ter uma idéia, da frequência com que uma criança sofre esse tipo de abordagem, estatísticas revelam que “antes de completar 5 anos, uma criança terá visto não menos do que 1000 comerciais” (VEJA, 13 de maio de 1998:89).
É fato inegável que muitas das mudanças ocorridas pós-televisão, dentro das famílias, foram para pior. Principalmente no que diz respeito à educação das crianças, adolescentes e jovens; bem como os valores éticos, morais e espirituais. Se for assim, devemos diante dessa realidade, refletir e fazer um auto-questionamento: Será que como seres humanos, racionais que somos, pensantes, deveríamos dar tanta atenção e preferência à televisão e seu conteúdo, sem ao menos questioná-lo? Será que pais e mães deveriam transferir suas responsabilidades quanto a educação dos filhos para um aparelho cheio de todo tipo de informação, sem ao menos selecioná-las? Deveria a escola continuar demonstrando tão pouco interesse em educar seus alunos para uma leitura crítica da TV?
A penetração da mídia eletrônica nos lares, também causou uma ruptura entre a vida privada da família e a vida pública, ou seja, a família como agente número um do processo de socialização foi destronada, suas orientações, regras, leis, código de ética e valores, outrora restritos no circulo familiar e inquestionáveis, passaram a ser questionados pela opinião da mídia. Isso levou a atual geração a ter uma visão relativista dos valores e das coisas, criando um universo de idéias pluralistas e, na maioria das vezes, não questionadas.

MONÓLOGO TELEVISUAL NA FAMÍLIA


Apesar de toda essa tecnologia informativa e cheia de recursos cada vez mais sofisticados, em muitas famílias de nosso século já não existe mais tempo para o diálogo, muito menos qualidade com o pouco que restou, porque principalmente a TV, além de interferir no conteúdo das conversas, colocou um “esparadrapo” na boca de todos, criando um monólogo televisual. São famílias que não desenvolveram um espírito crítico em relação aquilo que vêem na TV. E muito menos tranformaram o seu conteúdo em temas para debates ou diálogo dentro do círculo familiar. Embora devamos admitir que há temas que não valem a pena nem mesmo mencionar o título.
O fato concreto é que a comunicação em família foi afetada com a chegada da televisão. Há um conselho de que quando os problemas com a comunicação surgirem ou forem percebidos, é hora de fazer uma perguntinha que pode ser fundamental para resolver a situação, principalmente quando a desculapa é falta de tempo, a pergunta é: “O que estamos fazendo com aquelas horas na frente da tevê?”
É claro que as pessoas não ficam 100% mudas diante da telinha, mas quanto maior for o grau de interesse pelo que está sendo apresentado na TV, menos amistosas as pessoas se sentem a respeito de uma interrupação.
É evidente que existe, em menor ou maior grau, um envolvimento afetivo do telespectador com os personagens e situações da televisão. É preciso lembrar todavia que as mensagens televisuais atuam por impregnação, agindo sobre o inconsciente e o imaginário, que distrai e cativa a pessoa, paralizando por assim dizer sua capacidade de ação e reflexão. Talvez seja esta a razão por que há tantas famílias que no "horário nobre" estão demasiado fascinadas com o que assistem, que não têm tempo para ouvir, falar ou atender a pedidos. E quando alguém ousa interromper a programação favorita, acaba ocorrendo uma verdadeira “guerra”. Em certas ocasiões, até mesmo quando chega visita a indiferença é demonstrada, e o “aparelho das fantasias”, muitas vezes ignorante, inculto e irreligioso, continua tendo a suprema veneração.
De acordo com o relatório anual do AD Council (www.adcouncil.org. - entidade americana pró-lar e família), publicado na revista Seleções (em inglês - junho de 1998), “50% dos lares americanos deixam a televisão ligada durante o jantar em família.” Para o Dr. William J. Doherty (Ph.D.), autor do livro: “Intentional Family: How to build Family Ties in Our Modern World”, assistir TV na hora da refeição é lamentável, pois o tempo do jantar é frequentemente o único momento do dia quando há uma oportunidade para toda família estar junta e sentir um senso real de conexão e unidade. Sem um frequente reforço, a conexão familiar pode se perder, e principalmente as crianças, começarão a se sentir isoladas. Por essa razão, o relatório do AD Council dá algumas sugestões de como aproveitar o tempo das refeições e desenvolver o diálogo em família:
•    Faça da refeição uma hora especial, desligue a TV.
•    Acenda algumas velas e não comece o jantar até todos estarem presentes. Se a sua filha adolescente está no telefone e vocês começam sem ela, vocês estão dizendo que ela não é importante o suficiente para ser aguardada no jantar.
•    Todos devem permanecer à mesa até que o último membro da família tenha acabado de comer.
•    Se os conflitos e brigas tornarem o jantar em família impossível, seja criativo, pense em alternativas como um picnic à luz do luar.
•    Se não há como ter um jantar em família pelo menos uma ou duas vezes na semana, transforme o café da manhã aos sábados ou domingos em momentos especiais.
•    Algumas vezes saia com toda família para comer em um restaurante típico, onde não tenha televisão ligada. Lembre-se: o objetivo é manter a conexão familiar.
•    Procure transformar a hora da refeição num ritual em família, fazendo do diálogo um hábito.

CONCLUSÃO

Com o advento da televisão e sua rápida popularização, a maneira de ver o mundo se ampliou drasticamente. Diante da constante evolução tecnológica deste veículo de comunicação de massa, e do futuro da informação cada vez mais real e interativa, se faz necessário que as instituições socializadoras, ou seja: família, igreja e escola, promovam reflexões sobre os impactos que a tecnologia informativa está causando em crianças e adolescentes e o que pode ser feito para promover uma educação contínua para a mídia.
É fato que a geração pós-TV experimentou mudanças sociais profundas, causadas em grande parte pela influência dos programas de TV. Ao mesmo tempo que a televisão é considerada um instrumento socializador (porque ensina a olhar o mundo e o telespectador aprende popr meio de suas informações), a TV também é considerada um instrumento alienador. Todavia, essa alienação não está no aparelho em si, mas na atitude de quem assiste sem o mínimo de visão crítica.
Com relação a família o que se percebe é uma falta de comprometimento e interesse em desenvover nas crianças e adolescentes o senso crítico diante da informação recebida. Na maioria dos casos o que se percebe é uma interferência na comunicação familiar e uma verdadeira transferência de responsabilidade diante da televisão. Isso tem l;evado a questionamentos sobrte a quantidade de tempo dedicada por crianças e adolescentes ao “aparelho das fantasias”. O resultado não poderia ser outro além de uma verdadeira inversão de prioridades, prejudicando e muito o rendimento escolar.
Ao consoiderar a exposição intensa diante da TV, inúmeros estudos e pesquisas comprovaram o fato de que a criança não precisa dela para o seu pleno desenvolvimento enquanto ser humano. Pelo contrário, a situação ideal para a criança em fase de desenvolvimento é um ambiente que lhe proporcione inúmeros estímulos, pois no processo de humanização é fundamental a interação com o meio e com os que cercam o indivíduo. Vimos também que o próprio desenvolvimento da linguagem sofre uma defasagem quando estimulado diante da telinha em detrimento da socialização.
Se não bastasse esse atraso no desenvolvimento infantil, o consumo exagerado de TV várias horas por dia e sem nenhum critério de julgamento ou processo educativo de leitura crítica da mídia, tem contribuído para que crianças a edolescentes tenham problemas de saúde como o stress e a obesidade. O caso é ainda mais grave quando é levado em consideração o grau de escolaridade. A publicidade de alguns produtos e serviços veiculada na TV também tem dado sua parcela de contribuição para desenvolver em crianças e adolescentes hábitos nada saudáveis, como é o caso da propaganda de cigarros e bebidas alcoólicas. Diante disso também, se faz necessário desenvolver uma avaliação mais crítica da publicidade.
Diante da realidade de que várias horas são passadas todos os dias na frente da telinha, é inevitável que haja uma concorrência desleal com relação ao hábito da leitura. Considerando que a leitura é essencial ao desenvolvimento do pensamento criativo, e diante de inúmeros estudos sobre os benfícios do hábito de ler, está mais do que comprovado que televisão em excesso não combina com pensamento criativo. Todavia, muitas vezes os responsáveis maiores por essa concorrência desleal, são os próprios pais, que acabam se tornando cúmplices da TV ao desprezarem ou não priorizarem a leitura com seu principal lazer.
Diante de todas as observações feitas e dos aspectos positivos e negativos analisados neste trabalho, fica o desafio de educar para a mídia, ensinar a criança a fazer bom uso da TV, desenvolver nela uma visão mais crítica dos conteúdos veiculados na TV e priorizar outras atividades que proporcionem interatividade, sociabilidade e amadurecimento intelectual. Isso se torna ainda mais necessário quando constatamos o perigo que as crianças correm diante de certos programas de televisão, que nada mais são do que lixo televisual apresentado de forma colorida e atraente, porém perniciosa. Daí também nasce a necessidade de desenvolver projetos e processo de educação para a mídia, e a necessidade da família e da escola estarem unidas neste processo.  

Referencias bibliográficas

Revista ‘Veja’
Ed. Abril, Nov 1997 ano 31

SCHEMES, Jorge. A influencia da televisão no desenvolvimento biopsicosocial da criança.

ARIES, Philippe. História social da criança e da família. São Paulo: Afiliada, 1998

BENJAMIN, Walter. Reflexões a criança, o brinquedo e a educação. SP: Summus,
1984.
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